Rio de Janeiro, 24 de dezembro
Vinicinhos,
   É uma saudade quase irracional que sinto dele, vá, diz a ele pra que regresse. Chega de saudade!
   A brisa vem e descobre seu cheiro perdido em meus cabelos, vá, faça um poema que grite isso que se passa em meu peito. E não sei se chama amor, paixão, é fogo que arde e aquece a alma. Vá, que é “pra acabar com esse negócio dele viver sem mim”.
   Bossa nova segreda amores impossíveis no toca-discos. E vou assim, dançando mansa, sozinha, perdida entre martinis e amor. Não ouso acender a luz, vou deixando a escuridão entrar, abro a janela para a noite e é lua cheia, há gotas de luar pelo tapete, danço entre elas, com elas. As estrelas pingam lentas e felizes.
   Termine o poema assim, caro amigo, dizendo a ele que estou esperando com meu vestido vermelho, pés descalços, sambando lento, sambando doce. Cabelos soltos e perfume no ar.
   É bonito de se ver, um amor assim. Mais bonito ainda de se ter.

   Boa noite, meu poetinha, a gente se encontra entre teus versos, que não são teus, mas sim para quem os escreve.

(...)